As lutas (de) negras na terra, e os desafios da elaboração teórica: o sujeito negro como agente histórico no campo
Resumo
Este artigo tem como objetivo discutir a (des)consideração do sujeito negro como agente histórico do campo em face à disparidade entre a existência e lutas negra e feminina no campo e a elaboração teórica da educação do campo. Novos sujeitos vêm emergindo no cenário da educação do campo, reivindicando o seu lugar nas lutas e na produção teórico-política. Ao assim se colocarem, subvertem as classificações impostas pelo projeto de modernidade, cujo epicentro é a manutenção da supremacia racial branca e seus pressupostos políticos e econômicos. À esteira deste argumento, percebe-se que o legado ancestral feminino é constituído por estratégias que se circunscrevem a partir de cosmologias negras, cujas performances são tecidas fora dos modelos eurocentrados da política (Martins, 2003) e que estão fora da elaboração teórica da educação do campo, uma vez que as pedagogias negras não constituem princípios e concepções da educação do campo. Este trabalho utiliza-se de cartas de discentes negras do Programa de Pós-Graduação em Educação do Campo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, elaboradas num projeto de pesquisa, para apontar o violento silenciamento das negras, e em contrarresto dizer dos arranjos políticos que indicam sociabilidades produtivas no campo. Estas práticas ancestrais ritualizaram lutas pela e na terra, seja de escravizados/as, seja de assenzalados/as, que eram, antes de tudo, povos negros africanos e agentes históricos da luta pela terra. Isso indica uma política de (re)conhecimento das lacunas do pensamento social brasileiro e a necessidade de reposicionamento do branco e seu lugar de privilégio na produção teórica.
Palavras-chave: Legado ancestral feminino negro. Educação do Campo. Produção teórica. Branquitude.
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